Nunca mais eu vou deixar o Enéas andar de bicicleta...
Excesso de bicicleta pode afetar circulação e impedir a ereção
A prática prolongada do ciclismo pode exercer uma pressão sobre a anatomia masculina capaz de causar a impotência
Christine Gorman
Revista Time
Em Washington (EUA)
Vamos chamá-lo de Joe. Assim como muitas outras crianças, ele aprendeu a andar de bicicleta quando tinha 5 ou 6 anos. Aos 20, Joe estava praticando o ciclismo durante cerca de 10 horas por semana ou mais. Então, ele passou a notar uma dormência desconfortável nas suas parte genitais que ocorria de vez em quando, particularmente depois de ter efetuado longos percursos. Mas Joe não deu muita importância para esse fato, até o momento em que ele começou a enfrentar problemas na hora de manter uma ereção.
Uma consulta com um especialista em urologia confirmou que a impotência de Joe era essencialmente um problema de natureza física -o sangue não estava fluindo de maneira satisfatória dentro do seu pênis. Será que os anos que ele dedicara à prática da bicicleta poderiam ter alguma coisa a ver com isso?
"Com toda certeza", responde o médico que acompanha o caso de Joe, o doutor Irwin Goldstein, um professor de urologia e de ginecologia na Escola de Medicina da Universidade de Boston (Massachusets). Desde 1997, Goldstein vem alertando os ciclistas para o fato de que ficar sentado durante horas no assento de uma bicicleta pode causar uma forte pressão sobre o períneo, a região do corpo situada entre o ânus e o osso púbico, suficiente para danificar de maneira permanente a artéria que conduz o sangue até o pênis.
A partir de um estudo realizado sobre várias centenas de homens num clube ciclista de Boston, Goldstein chegou à conclusão de que um número não inferior a 4% dos ciclistas homens pesquisados apresenta problemas de impotência causados pela prática do esporte.
Uma nova evidência da provável relação entre a prática da bicicleta e a impotência está sendo divulgada nesta semana pelo Jornal de Andrologia. Um estudo de proporções reconhecidamente modestas examinou 17 policiais encarregados de fazer rondas de bicicleta e comparou a intensidade da pressão exercida por diversas partes de seus assentos com a quantidade e a duração de suas ereções durante o seu sono. Aqueles que andavam com mais freqüência de bicicleta e que, portanto, eram sujeitos a uma pressão mais pronunciada sobre a região do períneo, tiveram ereções em menor quantidade e mais curtas.
"Ao que tudo indica, a parte da frente do assento, isto é, o 'nariz' da bicicleta é a causadora do principal problema", afirma o autor que conduziu o estudo, Steven Schrader, um especialista em fisiologia da reprodução no Instituto Nacional de Segurança e Saúde Profissional.
Mas, antes que você resolva optar definitivamente entre a sua bicicleta e a sua vida amorosa, é preciso considerar que as evidências encontradas ainda são os resultados de estudos preliminares. "Acho que se trata de uma questão legítima", reconhece Martin Resnick, médico e professor catedrático no departamento de urologia na Universidade Case Western Reserve em Cleveland, no Ohio. "Mas precisamos de uma maior quantidade de dados para chegarmos a uma conclusão mais clara". Outros fatores também podem ser levados em conta, tais como a combinação da bicicleta com a sua anatomia específica e a maneira com a qual o usuário costuma pedalar.
Mesmo se os assentos de bicicletas causam efetivamente problemas, a solução não é necessariamente evidente. Irwin Goldstein é categórico em relação ao fato de que o "nariz" do assento deveria ser eliminado. Contudo, segundo Roger Minkow, um médico cuja profissão é projetar assentos de bicicletas e outros acessórios, a supressão do nariz poderia tornar mais difícil manter o controle sobre a bicicleta.
Na realidade, ao proporcionar ao ciclista alguma base sobre a qual apoiar o peso do seu corpo, o nariz o ajuda de fato a dirigir e a manter o equilíbrio. Nesse sentido, a solução apresentada por Minkow é simples: ele projetou uma fenda sobre o assento que, segundo ele, reduz a pressão sobre a região do períneo, o bastante para restaurar o fluxo sangüíneo.
Enquanto esse projeto não vê a luz do dia, não custa nada checar as
novidades no campo dos assentos de bicicleta ergonômicos. Além disso, sempre verifique se a sua bicicleta está mesmo adaptada de maneira correta ao seu torso. Com efeito, o movimento que consiste em se inclinar para frente durante um período de tempo prolongado aumenta a pressão sobre a região do períneo. (As mulheres têm também uma região do períneo, e algumas ciclistas têm se queixado de problemas geniturinários.)
Os especialistas também recomendam: não esqueça de se levantar do assento de vez em quando, ficando de pé sobre os pedais; esse movimento fará com que a pressão sobre a região do períneo seja interrompida. Ou ainda, vale tentar utilizar uma bicicleta que oferece uma posição deitada.
Em todo caso, nunca menospreze os sintomas de um adormecimento da região genital. O seu corpo pode estar tentando lhe dizer alguma coisa importante.
22 outubro, 2002
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