ok, o texto aqui é longo, pois eles pediram 4200 caracteres. Mas adorei escrevê-lo. Então coloca aqui para quem quiser ver. Críticas e, principalmente elogios, claro, são muito bem vindos.
O que parecia ser tão difícil, hoje percebo como foi natural. Decidi ser jornalista depois de ter feito uma reportagem. Sim. Eu nem percebi que havia feito uma reportagem. Tinha 16 anos e entrevistei uma moradora de rua para a feira de ciências do colégio. Levei a fita pra casa e editei sozinha, com base nos meus critérios que nem sabia de onde tinha tirado. Por um defeito do aparelho de som, cada corte do depoimento vinha seguido de uma pausa. Este defeito foi importantíssimo na apresentação do projeto, pois senti que era o tempo exato de as pessoas assimilarem a informação, era o momento que elas tinham para se emocionar. Fiquei fascinada pela reação das pessoas, a percepção de cada um sobre o meu trabalho.
Percebo que o jornalismo é esse jogo de emoções, a busca pelo conhecimento do profissional e a sede que este tem em transmitir sua visão de mundo. Ser jornalista é estar muito além do texto que se escreve. Ser jornalista é preocupar-se em apreender o que se busca em cada reportagem e, principalmente, saber conduzir o próprio sentimento para o trabalho, a ponto de permitir que o receptor compartilhe da paixão que se tem em adquirir conhecimento.
Cada depoimento, cada personagem da matéria ganha a força das palavras. O jornalista deve sempre saber como usar as palavras alheias da forma mais fiel possível, pois não há como reproduzir exatamente o que o personagem quer. Ele fala através do jornalista, que precisa colocar sua alma no que escreve. A visão do humano, o olho do jornalista está presente em cada palavra do texto. Mesmo que seja uma notícia corriqueira, a visão de um profissional será sempre diferente de outro, pois sua alma está ali contida.
Minha vivência pessoal também foi decisiva dentro das minhas escolhas na profissão. Minha avó, devo dizer, ficou decepcionada. A razão disso foi a dura vida política de meu avô, que em 1963 era ministro da educação do governo João Goulart. Seu nome é Paulo de Tarso Santos. Em sua carreira política, meu avô sofreu demais nas mãos de jornalistas que buscavam especulações do governo. Foi tachado de comunista e viu palavras alheias colocadas em sua boca. Em 1964 foi obrigado a exilar-se no Chile e lá permanecer por seis anos, junto com outras figuras importantes da história do país, como Fernando Henrique Cardoso e Almino Affonso, até hoje um grande amigo dele. Sinto-me privilegiada por ter crescido num meio político tão ativo como este, poder conviver com uma comunidade preocupada em intervir no futuro do país.
Desta família surgiram outros personagens importantes como meu padrinho Paulo de Tarso da Cunha Santos, publicitário especializado em marketing político. Um dos primeiros a cuidar de campanha no Brasil. E justamente da campanha de Lula em 1989. Mais uma vez me vi em meio a decisões importantes para o país. Vi a criação de um jingle inesquecível até hoje (Lula lá). Tudo isso me fascinou, me fez ter vontade de participar. E minha forma de participação é a divulgação, é poder passar a minha visão de tudo aquilo.
Outra questão importante não só na minha escolha como na formação de toda a minha personalidade é a música. Minha mãe é cantora lírica do Teatro Municipal de São Paulo. Ela é fundadora do Coralusp e foi lá que conheceu meu pai. Crescer rodeada de música é maravilhoso. Minha impressão de infância é que todas as crianças estavam rodeadas de música, mas não era assim. Era um privilégio meu que reconheci mais tarde. Faço coral desde pequena. Participei do Coralusp por dois anos e hoje canto com o maestro Diogo Pacheco, personagem assustador quando eu tinha cinco anos, quem diria. Da cultura eu tiro a poesia presente em meu pai. Cada texto meu vem carregado de sentimento e isso se deve ao fato de conviver diariamente com a música.
A vivência pessoal me enriquece por dentro e por fora, faz parte da alma que coloco nos textos. A arte nos deixa mais acessíveis ao mundo, o que me permite ouvir e compreender cada entrevistado como se fosse o mais importante. Minha preocupação é ser jornalista com personalidade e caráter. Destacar-me daqueles que por ventura não se preocupem com o resultado do que fazem. Para mim, o retorno começa antes mesmo de um texto estar pronto.
13 setembro, 2002
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