09 abril, 2007

Lembrar-se

Hoje meu avô ganhou uma neta. Ele ficou emocionado em me ver. Apresentei meu marido a ele, conversamos sobre os livros que ele já escreveu. Perguntei do passado, do que ele sentia saudade. A resposta foi: "Sabe, este momento aqui, hoje, está ótimo. Eu estou muito feliz". Foi muito bom vê-lo bem.

Esta foi pelo menos a segunda vez que ele me conheceu. Meu marido, então, ele vai conhecer todas as vezes que a gente aparecer por lá. E sempre será assim: uma novidade, uma grande surpresa.

Perda de memória é algo angustiante de ver, mas talvez para ele não seja assim tão ruim. É como dar o primeiro beijo várias vezes. Meu avô ontem mesmo pediu minha avó em casamento. Pois é, eles já casaram três vezes (no dia, nas bodas de prata e nas de ouro) e ele continua se apaixonando por ela todos os dias.

Uma outra tia minha sentou ao nosso lado e eu apresentei a ela o meu marido. Ela disse que ele era forte, me elogiou muito, disse que ele era um cara de sorte. Fiquei na dúvida se desta vez ela tinha mesmo lembrado de mim ou se improvisou. Eles são bons nisso: fazer você acreditar que eles sabem quem é. Mas o importante foi ver a empolgação dela em nos dar conselhos e fazer elogios.

Lembrar-se de tudo é muito bom. Como já disse meu amigo Drex, a memória é hipócrita: só guarda as coisas boas. As memórias ruins fogem dessa regra, mas essas podiam ser arquivadas pra sempre.

Fico triste de ver um homem brilhante e com tanta bagagem, como meu avô, perdendo suas lembranças. Mas fico feliz de poder criar novos momentos bons pra ele a cada dia.

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